Há poucos dias tive a infelicidade
de ouvir um pregador falar na TV que o cristão e a Igreja não tem que
fazer obras sociais, que isso é trabalho dos outros, não da igreja, e
que o cristão e a igreja tem que investir somente na “Obra de Deus” –
como se ajudar o próximo não fosse parte da Obra de Deus.
Pessoas
que assim pensam, também costumam dizer que a família não faz parte da
Obra de Deus, e que elas têm que estar em segundo plano, primeiro a
igreja (congregação).
“Mas, se alguém não tem cuidado dos seus, e
principalmente dos da sua família, negou a fé, e é pior do que o
infiel.” (I Tim 5:8)
Antes de mostrar na Palavra de Deus que este
argumento é facilmente refutado, gostaria, antes, de falar sobre o
perfil de algumas pessoas que são muitas vezes “equivocadas” (sim, é um
eufemismo) quanto à dor e sofrimento alheio.
Pessoas que nunca
passaram necessidades não se compadecem de quem as passa. Pessoas que
dizem que a fraqueza de uma pessoa em determinada área que ela é
tentada, é, na verdade, falta de caráter, é porque nunca enxergaram suas
próprias fraquezas. Pessoas que nasceram num lar evangélico acham que
os ímpios são ímpios porque querem. Pessoas que vencem com certa
facilidade uma tentação em uma determinada área da sua vida, tendem a
culpar os fracos que ainda não venceram. Pessoas que não aceitam suas
falhas tendem a não aceitar as falhas dos outros. Pessoas que não
venceram acha que ninguém mais consegue vencer. Pessoas que nunca
sentiram a dor da perda, acham que quem perdeu foi culpado de sua
própria perda. Líderes e Ministérios que se acham melhores, mais santos,
mais ungidos, ou mais qualquer coisa, são comumente sectaristas
enrustidos, cheios de proselitismo religioso, soberbos, presunçosos,
avarentos, e, o que muito tenho visto: antiéticos.
Tamanha é a
insensibilidade do ser humano diante do sofrimento alheio, que jamais
alguém teria amor suficiente para interceder ou lutar pela vida de
outrem, senão com a ajuda do Espírito Santo.
Mas graças a Deus,
que, embora não haja um que entenda, contudo, a Bíblia declara que
Jesus, como sumo sacerdote eterno, experimentou na carne todas as nossas
dores, angústias, tentações, fraquezas, sofrimentos, decepções,
frustrações, derrotas, enfermidades e sentimentos de solidão.
“Era
desprezado, e o mais rejeitado entre os homens, homem de dores, e
experimentado nos trabalhos; e, como um de quem os homens escondiam o
rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum. Verdadeiramente
ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre
si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele
foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das
nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e
pelas suas pisaduras fomos sarados.” (Isaías 53:3-5)
E por que
era necessário que Jesus experimentasse do mesmo sofrimento que a
humanidade é afligida? O livro de Hebreus, nos capítulos 2, 4 e 5
explicam:
“Por isso convinha que em tudo (Jesus) fosse semelhante
aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é
de Deus, para expiar os pecados do povo. Porque naquilo que ele mesmo,
sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados.” (2:17-18 –
grifo meu)
“Porque não temos um sumo sacerdote que não possa
compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi
tentado, mas sem pecado.” (4:15)
“PORQUE todo o sumo sacerdote,
tomado dentre os homens, é constituído a favor dos homens nas coisas
concernentes a Deus, para que ofereça dons e sacrifícios pelos pecados; E
possa compadecer-se ternamente dos ignorantes e errados; pois também
ele mesmo está rodeado de fraqueza.” (5:1-2)
Certa vez, um
renomado pastor disse que quando aparece um “santarrão” na igreja, que
se acha muito santo e perfeito, e que coloca um jugo (peso) no lombo da
igreja, jugo que nem mesmo ele pode carregar, Deus acaba permitindo que
ele tenha filhos para sua própria desonra e humilhação.
E por que isso acontece?
“A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda.” (Prov. 16:18)
As Obras Sociais
Se
obras sociais, como albergues, asilos, centros de recuperação,
hospitais, não fossem compromisso da Igreja e do cristão, que seria das
pessoas que viveram em lugares como estes, construídos por igrejas e
cristãos piedosos, e que graças a essas obras, puderam conhecer o amor
de Deus?
Sem querer fazer apologia à qualquer visão ministerial
ou denominação evangélica (não faço nem mesmo do meu ministério),
gostaria de tomar como exemplo, as obras sociais da Igreja Renascer em
Cristo. Quem conhece o trabalho social que eles têm certamente glorifica
a Deus pelas vidas que são diariamente transformadas e convertidas ao
Senhor Jesus. Pessoas de rua, viciados, menores abandonados, quantos
testemunhos vemos diariamente do que Deus fez na vida destas pessoas,
através das obras sociais do ministério Renascer? Será que alguém
conseguiria ser hipócrita e insensato o suficiente para dizer que estas
obras não fazem parte da Obra de Deus? Que vidas não foram salvas com
essas ações e projetos sociais?
E que dizer da catástrofe que
atingiu Santa Catarina nestes últimos meses? Devemos dizer que não é
responsabilidade nossa (como cristãos e como Igreja) ajudar aquelas
pessoas? Então dizer que o Amor de Deus, o Evangelho, não se expressa
nessas coisas? Somente em Pregações e criação de Templos? Que amor e fé
são esses? Acaso, devemos fazer acepção de pessoas?
“Meus irmãos,
que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as obras?
Porventura a fé pode salvá-lo? E, se o irmão ou a irmã estiverem nus, e
tiverem falta de mantimento quotidiano, E algum de vós lhes disser: Ide
em paz, aquentai-vos, e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas
necessárias para o corpo, que proveito virá daí? Assim também a fé, se
não tiver as obras, é morta em si mesma.” (Tiago 2:14-17)
Tive a
oportunidade de servir num ministério em Porto Alegre/RS, por alguns
anos, ajudando na ação social da Igreja. Fazíamos arrecadações de
alimentos e roupas e levávamos aos Centros de Recuperação da cidade.
Também levávamos, pelas madrugadas, às pessoas que viviam na rua,
embaixo de viadutos, em redes de esgotos, e em lugares tão terríveis que
nem um animal chegava perto. Quantos lares vi sendo restaurados,
quantos ex-viciados que hoje são obreiros na casa de Deus, quantas
crianças puderam voltar pra casa, quantos tiveram um lar pela primeira
vez porque alguém os ajudou? Quantos demônios foram expulsos dessas
pessoas?! Pude abraçar pessoas que nunca receberam um abraço, que nem
mesmo ouvira falar de Jesus e que hoje são crentes fiéis. Como dizer que
isso não é compromisso da Igreja?
Será que ajudar os pobres, dando pão, água, sustento, mantimento, não fazem parte da Obra de Deus?
O próprio Jesus nos ensina a dar esmolas:
“Vendei
o que tendes, e dai esmolas. Fazei para vós bolsas que não se
envelheçam; tesouro nos céus que nunca acabe, aonde não chega ladrão e a
traça não rói.” (Lucas 12:33)
“Quando, pois, deres esmola, não
faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas
sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade
vos digo que já receberam o seu galardão. Mas, quando tu deres esmola,
não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita; Para que a tua
esmola seja dada em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, ele mesmo te
recompensará publicamente.” (Mateus 6:2-4)
Jesus disse que dar esmolas ajuda-nos a nos limpar da sujeira do coração:
“Antes dai esmola do que tiverdes, e eis que tudo vos será limpo.” (Lucas 11:41)
A discípula cristã Dorcas, era conhecida por suas esmolas e ações sociais:
“E
havia em Jope uma discípula chamada Tabita, que traduzido se diz
Dorcas. Esta estava cheia de boas obras e [esmola]s que fazia.” (Atos
9:36)
Cornélio atraiu a atenção de Deus por suas obras de
caridades e esmolas, embora elas não fossem suficientes para que fosse
salvo (pois precisou ainda ouvir e crer na Obra de Cristo) ainda assim
foram de grande importância para que Deus ensinasse-lhe o caminho da
Salvação.
“E HAVIA em Cesaréia um homem por nome Cornélio,
centurião da coorte chamada italiana, Piedoso e temente a Deus, com toda
a sua casa, o qual fazia muitas esmolas ao povo, e de contínuo orava a
Deus. Este, quase à hora nona do dia, viu claramente numa visão um anjo
de Deus, que se dirigia para ele e dizia: Cornélio. O qual, fixando os
olhos nele, e muito atemorizado, disse: Que é, Senhor? E disse-lhe: As
tuas orações e as tuas esmolas têm subido para memória diante de Deus;”
(Atos 10:1-4)
Paulo, relatando seu testemunho em defesa diante do
presidente Félix, afirma que passados alguns anos, viera à sua nação
(não à sua igreja) trazer esmolas e ofertas. (Atos 24:17)
Jesus disse ao jovem rico que queria saber como ser salvo e servir a Deus com um coração perfeito:
“Disse-lhe
Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos
pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me.” (Mateus 19:21)
Jesus
poderia ter dito ao jovem para vender tudo e dar a igreja (e muitos
dizem isso mesmo), mas, Ele mandou para que desse o dinheiro aos pobres.
Que pobres?
Até mesmo nossas ceias de confraternização deveriam ser obras sociais, como Jesus mandou, mas, quem faz isso?
“E
dizia também ao que o tinha convidado: Quando deres um jantar, ou uma
ceia, não chames os teus amigos, nem os teus irmãos, nem os teus
parentes, nem vizinhos ricos, para que não suceda que também eles te
tornem a convidar, e te seja isso recompensado. Mas, quando fizeres
convite, chama os pobres, aleijados, mancos e cegos, E serás
bem-aventurado; porque eles não têm com que to recompensar; mas
recompensado te será na ressurreição dos justos.” (Lucas 14:12-14)
Jesus
disse que havia chegado a Salvação na casa de Zaqueu quando este
declarou-se arrependido de seus pecados e quando disse que iria ajudar
os pobres.
“E, levantando-se Zaqueu, disse ao Senhor: Senhor, eis
que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho
defraudado alguém, o restituo quadruplicado. E disse-lhe Jesus: Hoje
veio a salvação a esta casa, pois também este é filho de Abraão.” (Lucas
19:8-9)
Como alguém pode dizer que ajudar as pessoas
necessitadas a suprir suas necessidades básicas, não faz parte da Obra
de Deus? Como um pregador pode dizer isso? Jesus disse que nos últimos
dias o amor de muitos se esfriaria. Ele não disse que a fé se esfriaria,
mas que o amor, logo, há pessoas que tem grande fé, mas lhes falta o
amor.
A Bíblia diz que aquele que não ama não viu nem conheceu a
Deus, porque Deus é amor. Ajudar as pessoas em suas aflições, não só
espirituais, mas materiais e emocionais, é atitude dos justos.
“O justo se informa da causa dos pobres, mas o ímpio nem sequer toma conhecimento.” (Prov. 29:7)
O jejum que agrada a Deus é o da misericórdia e não o do sacrifício.
“Todavia
me procuram cada dia, tomam prazer em saber os meus caminhos, como um
povo que pratica justiça, e não deixa o direito do seu Deus;
perguntam-me pelos direitos da justiça, e têm prazer em se chegarem a
Deus, Dizendo: Por que jejuamos nós, e tu não atentas para isso? Por que
afligimos as nossas almas, e tu não o sabes? ... Seria este o jejum que
eu escolheria, que o homem um dia aflija a sua alma, que incline a sua
cabeça como o junco, e estenda debaixo de si saco e cinza? Chamarias tu a
isto jejum e dia aprazível ao SENHOR? ... Porventura não é este o jejum
que escolhi, que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as
ataduras do jugo e que deixes livres os oprimidos, e despedaces todo o
jugo? Porventura não é também que repartas o teu pão com o faminto, e
recolhas em casa os pobres abandonados; e, quando vires o nu, o cubras, e
não te escondas da tua carne?” (Isaías 58:2;3;5;6;7)
A cura de
muitas enfermidades e a resposta de algumas orações depende, muitas
vezes, do amor que praticamos para com os necessitados.
“Então
romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará, e a
tua justiça irá adiante de ti, e a glória do SENHOR será a tua
retaguarda. Então clamarás, e o SENHOR te responderá; gritarás, e ele
dirá: Eis-me aqui. Se tirares do meio de ti o jugo, o estender do dedo, e
o falar iniquamente; E se abrires a tua alma ao faminto, e fartares a
alma aflita; então a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será
como o meio-dia.” (Isaías 58:8-10)
É por esta causa que muitas vezes, quando clamamos, Deus não nos ouve.
“O que tapa o seu ouvido ao clamor do pobre, ele mesmo também clamará e não será ouvido.” (Prov. 21:13)
Qualquer
cristão com bom senso sabe que estes versículos, no seu contexto
original, não se referem simplesmente à “coisas espirituais”.
É
evidente que como cristãos, devemos dar prioridade (não exclusividade)
àqueles que comungam da mesma fé que a nossa, pois são nossa família, e
que a missão da Pregação e propagação do Evangelho deve estar além de
nossas próprias necessidades, e isso é bíblico. Mas daí dizer que não
devemos ter compromisso com Obras Sociais? Aprendemos na Bíblia que até
os cães comem das migalhas que caem da mesa dos seus senhores, ou seja,
que até mesmo os que não temos estima e íntimo afeto, necessitam de
nossa ajuda.
Quem não faz ações sociais, não ama o seu próximo. E
quem não ama o seu próximo, constitui-se transgressor da Lei de Deus,
pois se não consegue amar a quem vê, como poderá amar a Deus a quem não
vê?
Dizer que Obras Sociais não são responsabilidades dos cristãos e da Igreja, é ser insensato e infiel a Deus e à Sua Palavra.
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